Frágeis e que inspiram cuidados ao nascer, os bebês passam por diversas transformações até a chegada da crise dos 6 meses. O importante é que os pais, responsáveis e familiares aproveitem cada fase, cultivando paciência e harmonia.
Os primeiros meses de vida de um recém-nascido são cheios de descobertas e adaptações, tanto para os pequenos quanto para os pais. É a partir dessa idade, que se começa a observar um conjunto de transformações que resultam em uma convicção compartilhada: tudo se resume aos dentes.
Todas as manifestações da criança, como febre, choro excessivo, baba em excesso e dificuldades para dormir, são frequentemente atribuídas à erupção dentária. No entanto, essa explicação limitada ignora a complexidade do desenvolvimento infantil e os muitos fatores que podem influenciar esses sintomas.
“O desenvolvimento do bebê no primeiro ano é como uma escada, que ele (na companhia dos pais, mães e cuidadores) vai subindo degrau por degrau. A cada etapa, adquire mais repertório para lidar com as pessoas, consigo mesmo e com a vida”, explica a professora Miria Benincasa, do curso de Psicologia e da pós-graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, em entrevista para a revista Crescer.
Por isso, a transição dos seis meses representa uma verdadeira revolução na vida do bebê e também dos pais. Nesse período, diversas mudanças físicas, emocionais e sociais ocorrem, criando um cenário complexo que não pode ser reduzido ao simples surgimento de dentes.
Neste artigo, vamos explorar a crise dos 6 meses do bebê, destacando as várias perspectivas dessa fase e discutindo a verdadeira função dos dentes nesse processo.
Desmame: um ato de amor e liberdade para mãe e filho
Talvez esta seja a primeira mudança revolucionária pela qual o bebê tem de passar, pois começa a se distanciar do seio materno, sua primeira fonte de nutrientes e proteção. Isso não significa que ele precisará parar de mamar; ele apenas será apresentado a novos sabores e texturas.
Além do mais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam que o desmame seja iniciado a partir dos 6 meses, com a introdução de alimentos sólidos. O desmame deve ser completado após os 2 anos. Quem pensa que a vida de um bebê de 6 meses é fácil pode reconsiderar essa ideia.
Apesar do aleitamento materno exigir muito da mulher, fisicamente e emocionalmente, estudos mostram que a amamentação também contribui para a saúde dela, reduzindo as taxas de câncer de mama e de ovário, evitando osteoporose e problemas cardiovasculares, como a hipertensão. “Sem contar que é praticamente gratuito, então não há motivo para suspender a amamentação, mesmo depois que a introdução alimentar saudável tenha começado”, explica o pediatra Roberto Mario Issler, em entrevista ao portal Gazeta do Povo.
Até os seis meses, a amamentação é um ato que fortalece o vínculo entre mãe e filho, que se desenvolve desde a gestação e é repleto de significação. No entanto, \”não se pode limitar o vínculo à amamentação. Esse vínculo (\”bom\” ou \”ruim\”) é criado desde muito antes. Pelo menos desde a gestação, se não antes ainda\”, explica o pediatra Moisés Chencinski, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP.
Com a introdução de alimentos sólidos, o bebê é apresentado a novos sabores e texturas, o que pode gerar confusão e desconforto. Por isso, é importante ter paciência e respeitar o ritmo e desenvolvimento do paladar da criança. De início, a consistência da comida deve ser pastosa, solidificando-se de forma gradual. Não é necessário o uso de peneira; basta amassar os alimentos com um garfo.
Fase oral: experiência sensorial e mão na boca
Chegou a temida fase em que os bebês querem experimentar o mundo pela boca. Desde os três meses, a fase oral se intensifica, com os pequenos passando a colocar tudo na boca: mãozinhas, brinquedos, os acessórios dos pais ou cuidadores, roupas, e, evidentemente, as próprias mãos, para o desespero dos seus responsáveis. Esse comportamento, que atinge seu pico em bebê de 6 meses, é importante para o desenvolvimento sensorial e motor.
Também é comum nessa fase o aumento na produção de saliva do bebê, que parece estar sempre babando. Esse processo, que é natural e necessário, não está ligado, de fato, ao surgimento dos dentes. Isso ocorre porque os pequenos precisam dessa saliva para lubrificar os alimentos que estão sendo introduzidos, além de facilitar a digestão.
Pensando na segurança do seu filho, procure manter fora do alcance dele os seguintes itens:
- Objetos pontiagudos e cortantes;
- Brinquedos e objetos de pequena dimensão;
- Medicamentos.
Ao fazer isso, você estará contribuindo para a proteção do seu filho. É importante estar atento para evitar acidentes, como sufocamentos, bloqueio de vias respiratórias, intoxicações, entre outros.
Mudança de perspectiva: quando o bebê começa a sentar
Esse momento é motivo de orgulho para muitos papais, pois é quando percebem que seus filhos estão crescendo. Nessa fase, o bebê começa a ver o mundo de um novo ângulo. É o momento em que eles saem da posição horizontal, deitados e com uma visão limitada, para a vertical, sentados, permitindo uma visão mais ampla do mundo. Essa transição pode ser desconcertante.
Entre os seis e oito meses, os pequenos desenvolvem essa habilidade à medida que adquirem controle muscular e força para manter o equilíbrio. Assim, eles desenvolvem os músculos do pescoço, tronco e costas, permitindo que consigam sentar sem suporte.
Esse simples ato já oferece novas possibilidades de exploração. Assim como o sentimento de satisfação, essa nova conquista também traz ansiedade para ambos, mães e filhos, além de desafios e uma necessidade de adaptação, o que gera certa inquietação no bebê.
Estimulando o bebê a sentar
Para garantir a segurança da criança e sua tranquilidade, coloque-a em uma superfície plana, macia e firme. Inicialmente, você pode usar almofadas, mas elas devem ser retiradas gradualmente. Lembre-se de deixar o tronco do bebê firme.
Fim da licença-maternidade: O impacto da separação
Nessa fase, as mães já tentaram várias estratégias, como emendar as férias, atestados quando necessários e propor trabalho home office ou híbrido. No entanto, não tem jeito, chegou a hora de voltar ao trabalho.
Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Fawcett Society, realizada em 2023, mostrou que 84% das mães relataram dificuldades emocionais ao retornar ao trabalho. Dessas, 40% mencionaram a culpa como um sentimento recorrente. Se as mães se sentem assim, imagine como se sentem os bebês, que vão perder seu porto seguro e seu conforto.
Enquanto a mãe enfrenta a ansiedade de separação, os bebês precisam lidar com a angústia de separação, que é uma reação emocional comum em crianças, especialmente quando se afastam de pessoas muito importantes para elas, como os pais.
O pediatra Álvaro Jorge Madeiro Leite, do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento da SBP, explica em entrevista para o site Huggies que isso é normal entre o sexto e o nono mês de vida, embora variações possam ocorrer. \”É nesse período que a criança começa a perceber que a mãe pode se afastar e, por conseguinte, experimenta uma gama de emoções complexas associadas à separação\”.
É nessa fase, com a ausência da figura materna, que novas pessoas começam a aparecer, como babás, avós, tios e outros cuidadores. A separação é um grande desafio; além disso, a ansiedade do bebê pode se manifestar de várias maneiras, incluindo choro excessivo e a necessidade de estar próximo da mãe.
É a hora da creche: Novos estímulos e desafios
Não existe um consenso sobre qual é a melhor idade para colocar o bebê na creche. Afinal, muitas mães precisam voltar ao trabalho antes dos seis meses. A idade mínima para que uma criança possa entrar na creche é de zero a três anos de idade. No entanto, a recomendação da SBP é que a entrada do bebê na aconteça a partir dos seis meses, devido à orientação de aleitamento exclusivo até essa idade.
Se tem um som muito familiar nos berçários das creches é o choro das crianças. Esse é mais um desafio que pode causar estranheza aos pequenos. Um novo ambiente, a ausência da mãe e um espaço repleto de estímulos e pessoas desconhecidas podem parecer confusos e assustadores.
Nesse novo ambiente, as crianças são apresentadas a cuidadores diferentes, outros bebês e uma rotina distinta. Durante essa fase de interação com os colegas, os bebês estão mais expostos a vírus e doenças para as quais podem não estar preparados. Além disso, se é difícil para um adulto, imagine como deve ser desafiador para uma criança passar pelo processo de adaptação.
Diminuição do anticorpos maternos
Todos os pais e responsáveis passam pela fase em que começam a surgir todo tipo de doenças. É comum ouvir que isso pode ser por causa dos dentes que estão nascendo, mas nem tudo gira em torno disso. As febres, o mal-estar, as diarreias, as dores e os incômodos podem ter outras explicações.
Além de amor, as mães também doam proteção aos seus filhos. Isso acontece porque os anticorpos maternos do tipo IgG, que são proteínas do sistema imunológico, são transmitidos à criança durante a gravidez e também através do leite materno. Esses anticorpos ajudam a proteger o lactente contra infecções, conferindo imunidade passiva.
Bem que esses anticorpos poderiam permanecer por mais tempo, porém, aos seis meses, começa a diminuição dos anticorpos maternos. À medida que a imunidade do bebê se estabiliza, ele pode apresentar um aumento na incidência de doenças, como resfriados.
A vida do bebê: Angústia da separação
É importante mencionar que, aos seis meses, o bebê começa a vivenciar a formação do seu ego, percebendo que ele e as pessoas ao seu redor são diferentes. Se antes, tudo o que ele conhecia — pessoas ou objetos — parecia fazer parte dele, agora, ele começa a entender que, se a mãe sair da sala, ela não está mais ali, o que pode deixá-lo triste ou ansioso.
Por exemplo, imagine um momento em que a mãe deixa o bebê com a avó por um curto período. O bebê pode começar a chorar porque sente a ausência dela e não sabe para onde ela foi. Essa sensação de \’falta\’ é o que chamamos de angústia de separação.
Essas reações são normais e fazem parte do desenvolvimento emocional do bebê. Com o tempo, ele se acostumará com essas separações e aprenderá a lidar melhor com suas emoções. É um processo de crescimento que exige paciência e compreensão tanto do bebê quanto dos adultos ao seu redor.
Crise dos 6 meses: Agora é a culpa dos dentes
O surgimento dos primeiros dentes do bebê não é uma fase fácil para os pais. Durante esse período, os pequenos ficam mais sensíveis e podem sentir dor. De fato, eles podem causar desconforto, aumento da salivação, choro, irritabilidade e estado febril quando estão prestes a nascer.
Em meio a essa situação, muitos pais negligenciam uma questão importante relacionada aos dentes: a escovação. Tanto a Academia Americana de Pediatria quanto a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomendam o uso de pasta de dente com flúor desde a erupção dos dentes, utilizando uma quantidade adequada à idade da criança.
É sempre bom lembrar que a escovação mais importante ocorre antes do sono. O ideal é escovar os dentes após a última mamada ou refeição, porque, se não fizer isso, os restos de lactose do leite podem permanecer no esmalte dos dentes enquanto a criança dorme. A saliva é a principal proteção dos dentes, e se a criança não escovar após a mamada, corre o risco de desenvolver a cárie de mamadeira.
Primeiros dentes do bebê
Tem dúvida sobre como saber se o dente do bebê está nascendo? O primeiro sintoma a ser observado é o aumento na produção de saliva, que é maior. Além disso, o pequeno pode apresentar gengivas inchadas e sensíveis, irritabilidade, falta de apetite e dificuldades para dormir.
Ordem cronológica de nascimento dos dentes do bebê
- 6 e os 7 meses: Nascem os dois dentes frontais inferiores, os incisivos inferiores centrais;
- 6 e os 8 meses: Surgem os dois dentes frontais superiores, os incisivos superiores centrais;
- 9 e os 11 meses: Nascem os incisivos laterais superiores;
- 10 e os 12 meses: Nascem os incisivos laterais inferiores;
- 12 e os 16 meses: Surgem os primeiros molares superiores e inferiores, um total de quatro dentes que ficam atrás dos caninos;
- 16 e os 20 meses: Nascem os quatro caninos, os dentes pontiagudos que ficam ao lado dos incisivos;
- 20 e os 30 meses: Surgem os segundos molares superiores e inferiores, os quatro dentes que ficam no fundo da boca.
Fonte: Colgate
Nessa etapa, a vida do bebê é uma mistura de desafios e desconfortos. Por isso, é essencial que os pais ofereçam apoio e conforto, lembrando que esse momento é temporário e faz parte do processo de crescimento.
Conclusão
Apesar de ser comum, não se pode atribuir todos os problemas do bebê aos dentes. A crise dos 6 meses vai muito além disso, pois os bebês estão passando por diversas mudanças emocionais e comportamentais, se adaptando à nova fase de suas vidas.
Compreender os vários aspectos que envolvem a crise dos 6 meses do bebê pode ajudar os pais a atravessarem essa fase com mais tranquilidade e segurança. Pensando nisso, exploramos esse assunto neste guia
Por fim, é importante reconhecer que os dentes não são os únicos vilões causadores das dores e problemas que seu filho enfrenta.